domingo, março 24, 2013

Memória Descritiva

Deixa-me ficar na minha redoma de vidro
onde anseio a eternidade fatal!
Vou disputar com Vénus motivos efémeros
para conquistar o verde e não por mal
juramos ser eternos
para o mútuo agrado que talvez partilhemos!
 

E em troca? Ofereces-me o silêncio
Eu nunca esperei menos!
Desenho-te com a luz da minha super 8
Face pálida e amarga
Carrego frames com esperança
De te ouvir uma palavra!
 

Mas esta cena nem tem diálogos!
Se os tivesse seriam censurados!
Eu mesma os teria cortado!
 

Porque a beleza mais pura
Não precisa de descrição
que interessa o motivo e a obra
se ele se eleva ao guião?
Seria a película mais bem gasta,
um plano longo que não acaba
Fechado na sua cara
Só suspira com a tensão.
Ele olha directo para a câmara
como quem desaprova.
Não quer ser arte,

A palavra incomoda!


Sílvia Cunha

Debaixo do Bulcão poezine
nº41 -  março 2013

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