sábado, março 13, 2010


Amor meu, se morro e tu não morres,
amor meu, se morres e não morro,
não demos à dor mais território:
não há extensão como a que vivemos.

Pó no trigo, areia nas areias,
o tempo, a água errante, o vento vago
nos transportou como grão navegante.
Podemos não nos encontrar no tempo.

Esta campina em que nos achamos,
oh pequeno infinito! devolvemos.
Mas este amor, amor, não terminou,

e assim como não teve nascimento
morte não tem, é como um longo rio,
só muda de terras e de lábios.


Pablo Neruda

XCII, de "Cem Sonetos de Amor"
(tradução de Carlos Nejar,
edição L&PM Editores S/A
Porto Alegre, 2001)

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