sexta-feira, fevereiro 27, 2009

BLOGUE SUSPENSO POR TEMPO INDETERMINADO

Dificuldades de acesso à internet e alguns entraves que têm sido colocados ao trabalho do editor deste blogue, obrigam a suspender as postagens por tempo indeterminado.

Peço a vossa compreensão e apresento desde já o meu pedido de desculpas por eventuais inconvenientes que esta interrupção possa implicar.

Uma explicação mais detalhada encontra-se em

http://vitorinices.blogspot.com/2009/02/blogue-suspenso-por-tempo-indeterminado.html

Saudações culturais

António Vitorino
(editor)

terça-feira, fevereiro 24, 2009

Ataque de esquizofrenia cultural no terminal rodoviário de Cacilhas




à espera de transporte pró seixal
num microcosmos de cervejaria
tou vendo a emissão lá da bahia
("imagina o brasil sem carnaval") *

enredo-me neste reino animal
sonetando a ventura de hoje em dia:
a estamparia cultural que é minha.
isto assim não está bem. mas não faz mal:

aqui num portugal de pequeninos
eu não olho pró lado: já bastavam
as grandes porcarias que os meninos

sempre fazem na lama em que se encharcam.
são muito europeus: são sibilinos
e se mais mud houvera lá chegaram.



*(pergunta retórica de Daniela Mercury
em entrevista à TV Record, emitida em Portugal a 16 Fevereiro 2007)


Affonso Gallo (poema inédito)

(foto de António Vitorino: grafiti em Cacilhas, Abril 2008)

sábado, fevereiro 21, 2009

NUMERO DO INTERMEZZO

(HEINE)





Das minhas mágoas fiz canções suaves,
Que partindo, em alegre revoada
Tomam caminho - pequeninas aves -
Do coração da minha bem-amada.

Porém, na volta, essas canções luzidas
Vêm tristes, ao contrário, vêm chorosas,
E nem siquer, alludem, doloridas,
Áquelas regiões mysteriosas.

Porto - 1888

Joaquim d'Araújo

Em Jornal do Domingo, 19 de Fevereiro de 1888
(reproduzido de acordo com a ortografia da época)


Jornal do Domingo na Hemeroteca Digital da Câmara Municipal de Lisboa:

terça-feira, fevereiro 17, 2009





I. Conchas


Tu e eu, metades iguais
Do mesmo fruto
Que o mar, de paixão,
Salga.

E a concha se abre,

Bivalve moradia onde
Em teu corredor me esquivo.

E a concha se fecha

E de duas, uma só se faz.
Feita de tu e eu.



II. Jogos de salão


Cuidadoso aplica o giz azul. Boleando.
Deitou-a sobre a mesa de bilhar,
Os mamilos
Parecem-lhe dois pontos azuis no pano verde.

Os pontos no pano verde parecem-lhe mamilos azuis.

Risca a preceito o triângulo,
(como se fosse pélvico em negros reflexos de azul)
Sobre o pano verde.

O taco aponta para não falhar o embolse
(consumado)
Rasgado no pano verde.


III. Árvore de Fruto

Estremeceu quando
Um riacho de vida a invadiu.

(Estremeceram as margens quando
O rio de enchente se fez.
Fertilizam os campos de água
Encharcados.)

Nascerá o fruto de
Tão bem tratada árvore.


IV. Cio

Como um gato dissimulo-me
Por detrás das ramagens.
Aguardo-te a chegada distraída,
Confiado no silêncio do luar.
Cheiro-te a passagem de odor
Feito passaporte.
Ataco-te o cio num miado
Lancinante.



PreDatado
©2009



Poema reproduzido com o consentimento do autor.

Publicado originalmente em
http://www.predatado.blogspot.com/

(Foto de Portal Biologia)

sábado, fevereiro 14, 2009

O Patinho Feio nas Ondas da Internet

(um romance de cordel...)




O Patinho Feio estava
solitário no jardim,
de repente apareceu
a garota Yasmim.

Ela disse: "eu me enganava
ao pensar que era feio,
mas você é muito lindo!
Vou lhe dar o meu emeio;

anote, querido Pato:
Yasmim @bol
ponto com ponto br
moro na Rua do Sol".

O Patinho saiu contente
com as palavras que ouviu,
foi pra casa tão alegre
que muito pouco dormiu.

Bem cedinho ele acordou,
foi pra escola estudar,
porque era um garoto
aplicado e exemplar.

Ao chegar na sua escola,
ele estava radiante,
muito cheio de alegria,
otimista e confiante.

O momento ideal
ele soube esperar
pra poder ir a Lan House
e assim poder teclar.

No domingo ele enviou
uma mensagem singela
dizendo que estava 'louco'
para encontrar com ela.

Logo veio a resposta
da garota Yasmim
marcando encontro com ele
naquele mesmo jardim!

O Pato chegou primeiro
bem alegre e sorridente.
Sua auto-estima agora
lhe deixava bem contente.

A garota foi chegando,
deu-lhe logo um beijinho,
dizendo: - querido Pato,
você é mesmo um gatinho!

Ela perguntou: "Querido,
quantos irmãos você tem?"
Ele disse: tenho quatro
e a todos quero bem;

sou o caçula da família,
um Patinho desprezado,
me chamam de loiro-burro
medroso e desajeitado;

todos aqui me rejeitam,
tenho pouca alegria,
mas agora com você:
outra fase se inicia!"

As colegas de Yasmim
quando viram aquele Pato,
disseram pra sua amiga:
- realmente ele é um gato!

Naquele mesmo dia
Yasmim foi conhecer
a família do Patinho
e amizade assim fazer.

Quando Yasmim chegou,
todos estavam animados:
o sogro, a sogra, a vovó
e também os seus cunhados.

Ela logo percebeu
algo bastante esquisito
pois o seu namoradinho
era mesmo o mais bonito!

E além de mais bonito
era um Pato exemplar:
não bebia, nem fumava
e gostava de estudar.

O namoro prosseguiu
e logo estavam casados,
hoje estão em harmonia
vivendo bem amparados.

O Patinho estudioso
passou no vestibular
agora é professor,
começou a lecionar.

Yasmim, sua esposa,
se formou em professora,
já deus luz a dois "patinhos"
e quer ser uma doutora.

Os filhinhos do casal
são de cores diferentes:
pois os pais de Yasmim
são dois afro-descendentes.

Essa estória que narrei
tem sabor de "quero mais"!
então dê prosseguimento
para ver aonde vai!!!


Antonio Carlos de Oliveira Barreto

Edições Akadicadikum
Salvador, Ba, Brasil


Nota do editor deste blogue: O que aqui se apresenta é um exemplo da "literatura de cordel", género literário levado pelos portugueses para o Brasil, e muito cultivado, nos dias de hoje, no Estado da Bahia. O "cordel" nasceu em Portugal, a partir da poesia popular e trovadoresca, e teve o seu expoente máximo, em terras lusas, durante o século XVII. Atualmente deixou de se praticar em Portugal. Contudo, em terras brasileiras, é reconhecido como género literário de pleno direito. Para mais informações, consultar o site da Academia Brasileira de Literatura de Cordel (http://www.ablc.com.br/) ou o Portal da Literatura de Cordel (http://www.portaldocordel.com.br/). No meu blogue pessoal tenho um artigo sobre o assunto, com mais alguns "liks" (em http://vitorinices.blogspot.com/2009/02/literatura-de-cordel.html) AV

sábado, fevereiro 07, 2009

Cacilhas




A tua história
Continua um mistério
Envolta nos vestígios
De povos milenares
Que chegaram pelo mar
Às tuas misteriosas margens
Empurrados pelo destino
Depois de tantas viagens...

Uns ficaram,
Outros partiram.
É sempre esta,
A história dos navegantes
Que deixam o corpo e a alma,
Em lugares tão distantes...

Luís Alves Milheiro

em Palavras ao Tejo
Edição SCALA, Dezembro 2008
(fotografia: Cacilhas, no final da década de 1970; autor não identificado)

quinta-feira, fevereiro 05, 2009

Poesia na Mostra de Teatro de Almada 2009


"Defesa dos Lobos Contra os Cordeiros", um espectáculo com poemas de Hans Magnus Enzensberger, Henri Michaux e Charles Bukovski, ditos por José Vaz (produção O Grito - Associação Cultural), integra o programa de abertura da Mostra de Teatro de Almada 2009, sexta-feira, 6 de Fevereiro, à noite, no Fórum Municipal Romeu Correia.

"Desde a infância, ensinam-nos a temer e a odiar os lobos. O cordeiro, pelo contrário, é-nos apresentado como o ideal ético a perseguir. É com ele que o lobo deverá um dia aprender a pastar... Eis o politicamente correcto, a cartilha sentimental convencional, a moral de mestre-escola"... lê-se no texto de apresentação do espectáculo.

Este recital de poesia teve a sua estreia em 2001 - a convite do Debaixo do Bulcão, e em representação deste projecto - inserido na programação da 1ª Festa Amarela, do Centro Cultural Juvenil de Santo Amaro (Casa Amarela, no Laranjeiro).

A Mostra de Teatro de Almada decorre entre 6 e 22 de Fevereiro, em vários locais do concelho.
Começa com um espectáculo de rua, na Praça da Liberdade, com a banda "O Menino é Lindo" a partir das 21h00; segue-se o recital de poesia, no Fórum Romeu Correia e, no mesmo local, um encontro com João Brites, director do Teatro O Bando

Programa e mais informação disponíveis em: