sexta-feira, outubro 30, 2009

Poeta junto a incerto litoral


"Que não pode cantar com melodia
Um peito, de gemer cansado e rouco"
Bocage

nos teus delírios chispam mil falésias
poeta do veneno da verdade
e o mar revolto em baixo é paramento
na liturgia insana da saudade.

ó filhos desta voz altiva e seca
quem assim vos zurziu, almas penadas?
responde o claro eco: não fui eu
responde o mar: não tenho águas paradas.

(silêncio...)

não brada mais ao mar esse poeta
conhece enfim a dor da humanidade
mas a que tem no peito já o mata
erros seus, má fortuna, flor calada.


António Vitorino

Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

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