quarta-feira, dezembro 30, 2009

Receita de Ano Novo




Para você ganhar belíssimo Ano Novo
cor de arco-íris, ou da cor da sua paz,
Ano Novo sem comparação como todo o tempo já vivido
(mal vivido ou talvez sem sentido)
para você ganhar um ano
não apenas pintado de novo, remendado às carreiras,
mas novo nas sementinhas do vir-a-ser,
novo até no coração das coisas menos percebidas
(a começar pelo seu interior)
novo espontâneo, que de tão perfeito nem se nota,
mas com ele se come, se passeia,
se ama, se compreende, se trabalha,
você não precisa beber champanha ou qualquer outra birita,
não precisa expedir nem receber mensagens
(planta recebe mensagens?
passa telegramas?).
Não precisa fazer lista de boas intenções
para arquivá-las na gaveta.
Não precisa chorar de arrependido
pelas besteiras consumadas
nem parvamente acreditar
que por decreto da esperança
a partir de janeiro as coisas mudem
e seja tudo claridade, recompensa,
justiça entre os homens e as nações,
liberdade com cheiro e gosto de pão matinal,
direitos respeitados, começando
pelo direito augusto de viver.
Para ganhar um ano-novo
que mereça este nome,
você, meu caro, tem de merecê-lo,
tem de fazê-lo de novo, eu sei que não é fácil,
mas tente, experimente, consciente.
É dentro de você que o Ano Novo
cochila e espera desde sempre.


Carlos Drummond de Andrade



Texto extraído do "Jornal do Brasil", Dezembro/1997.em
http://www.releituras.com/drummond_dezembro.asp

terça-feira, dezembro 29, 2009

Vade retro




quando olhas pela janela do metropolitano entre anjos e socorro
desconfias que por trás do veloz muro
lá bem entranhado na laboriosa terra há um resto
de fenícios já tardios que ali na terra tombaram.
deixaste atrás de ti um capitel grego em arroios
e uma bexiga de porco medieval em alvalade.
apontas para pontinha. mas vais suspeitar de mouros no saldanha
e de peste que só mata castelhanos lá no rato.
entopes-te toupeiramente mesmo em baixo do marquês
e sais ofuscado de luz em campo grande.
então finalmente pensas:
no tempo em que alexandre o'neill pisava o chão da cidade
era bem mais pequena a rede: era ridícula
e hoje finalmente já não é.



António Vitorino

Debaixo do Bulcão poezine
Número 20 - Almada, Dezembro 2002

(poema inspirado na famosa frase de Alexandre O'Neill "vá de metro, satanás!")

domingo, dezembro 27, 2009

Tehil (um salmo)

´


Vens ao meu jardim
ao meu retiro de aves e pensamentos
colher da Tua mirra com tuas mãos cobertas
de orvalho: comer Teu leite e mel
oh corpo que estendes as águas oh Senhor do sol!
Olhas-me e a chuva sobre as casas
cai no espaço fluido do mundo...
Oh eu sou às vezes nevrálgico como um sono sem sonhos...

Tenho sede de Ti! Como o veado a gazela
suspiram pelas cordas de água nas montanhas...
Teus mistérios são harpas: as músicas do futuro
num vale ao longe - em Ti
aprendi a morrer...

(Nos plátanos da estrada
- círculo oval palidamente fechado
nessa elipse vegetal do vento -
não foram ainda dispersas as amarelas folhas
E uma luz tímida enche agora a tarde
Quem sabe ela virá achar-me os cabelos
se eles ficarem cinza pela terra...)

E vejo as Tuas mãos no repouso
de mim: pois Tu me gravaste na Tua carne
Meus muros estão sempre perante Ti
Meus olhos são húmidos perante as linhas nocturnas

Mas Tu
Tu ficas e andas com os Teus pés
no meu jardim como no olho da tempestade...


António José Coutinho

Debaixo do Bulcão poezine
Número 20 - Almada, Dezembro 2002

quinta-feira, dezembro 24, 2009

Poema de Natal, de Vinicius de Moraes

Poema de Vinicius de Morais, interpretado por Camila Morgado e Ricardo Blat. Trecho extraído do filme de Miguel Faria Jr. POEMA DE NATAL

quarta-feira, dezembro 23, 2009




o dinheiro não tem raça
mata todos por igual
todos os pobres da praça
esperam o seu pai natal

e se o pai natal não vem
já não faz mal, tá-se bem
bebe-se um copo a doer
fumos depois de beber


Affonso Gallo
http://affonsogallo.blogspot.com/

Debaixo do Bulcão poezine
Número 7 - Almada, Dezembro 1997

A História de um Homem


Rua fora fugia
Corria velozmente
Por uma recta imaginária

A população observava-o
Admirada com tal atitude

No seu horizonte
Estava um campo verde
Umas casas baixinhas
Uma população
Constituída por Humanos
Um ar fresquinho

Respirava-se um ambiente de amizade
Em vez de se "comerem"
Apoiavam-se
Em vez de objectivarem dinheiro
Lutavam por uma vida
Em vez de agredirem
Paravam para dialogar

O homem tinha descoberto
Uma jóia
Bem diferente da jóia da sociedade.

Pessoalmente reparei nele
E corri junto dele.


Ana Monteiro

Debaixo do Bulcão poezine
Número 27 - Almada, Dezembro 2004

terça-feira, dezembro 22, 2009

VIVO




Olhar aquele cigarro aceso que desejo
E que é meu e que levo à boca
Faz-me sentir vivo

Olhar o céu e sentir o chão debaixo dos pés
Caminhar ao Sol ou à chuva
Faz-me sentir vivo

Numa oração a um deus tão igual e tão diferente
Eu peço:
Faz-me sentir vivo

Faz-me sentir vivo.


José João da Costa Mota

Debaixo do Bulcão poezine
Número 11 - Almada, Dezembro 1998

quarta-feira, dezembro 16, 2009

O Ciclo da Serpente - premonições deveras líricas


Sala Pablo Neruda do Fórum Municipal Romeu Correia
Biblioteca Central de Almada
16 de Dezembro de 2009 (quarta-feira)
21h30

O Ciclo da Serpente - premonições deveras líricas
Poesia de António Vitorino (de 1989); prefácio de Alexandre Castanheira, capa de de Rui Tavares, paginação de Ermelinda Toscano. Uma edição Index Poesis (Poetas Almadenses).

Sobre o autor:

António Vitorino foi animador cultural na década de 1980 (no Centro Cultural de Almada), jornalista desde 1992 (em diversos órgãos regionais de imprensa escrita e falada), editor de uma publicação de poesia (Debaixo do Bulcão poezine) desde 1996. Actualmente exerce funções de assessoria num gabinete de comunicação.

Escreve poesia desde o início da década de 80. Publicou, durante essa década, no suplemento literário DN-Jovem, do Diário de Notícias e no suplemento juvenil do Boletim Municipal de Almada. Tem 3 cadernos de poesia (pequenas colectâneas de poemas avulsos) na colecção Index Poesis (o primeiro dos quais - número 1 dessa colecção - com o pseudónimo Affonso Gallo). Está referenciado no livro "Gente de Letras com Vínculo a Almada - bio-bibliografias", edição SCALA - Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada, 2005.

Apresenta agora "O Ciclo da Serpente - premonições deveras líricas", livro escrito em 1989. É este, na verdade, o seu "primeiro livro".

Sobre a obra poética de António Vitorino, escreve o autor do prefácio, Alexandre Castanheira «estamos perante um dos melhores valores da Poesia escrita por homens e mulheres de Almada» (http://umaefemeridemotivadora.blogspot.com).

A capa do livro é da autoria de Rui Tavares, fotógrafo e artista plástico luso-angolano, galardoado com diversos prémios de âmbito internacional.

A apresentação do livro contará também com um espectáculo, elaborado para o efeito pelos actores José Vaz e João Vasco Henriques (sonorizado pelo projecto "O Burro e o Cigano"), a partir dos 17 poemas que compõem "O Ciclo da Serpente - premonições deveras líricas".

Ciclo da serpente




rara serpente. submersa sob o gelo das palavras
e a brancura rubra dos lugares onde
o frio da navalha se submete
à serpente imaginada.


António Vitorino

O Ciclo da Serpente - premonições deveras líricas (1989)
Edição Index Poesis. Almada, Dezembro de 2009

domingo, dezembro 13, 2009

Miraculum




respeitar a trova, serpente dos dias ácidos
que na treva se desdobra. sibilina

maré de dor.

preparo a pele doce, humus quente
respiração da água

preliminar serpente.



António Vitorino

em O Ciclo da Serpente - premonições deveras líricas (1989)
edição Index Poesis, Almada Dezembro de 2009

segunda-feira, dezembro 07, 2009

O Dominó da Malta


Queria era o três-cinco!
Catorze!
Joga o quatro-cinco!
Tem dez.
Também não foi mal jogado.
O Vargas vai à frente.
(Bem o jogo está uma merda.
Passas?)

Podes crer.
Bem, está cada vez + alto, não tá?
Eu atrofio um bocado
de jogar esta merda.
Ouve o meu jogo está
Está um bocado... morto!
Dez e dominó

Miguel Nuno

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro 1996

quinta-feira, dezembro 03, 2009

Êxtase de milhões de mega-unidades de sensação


Colocado directamente no virtual processo,
Encaixo-me no arquivo-ajuda
De extensão extremamente reduzida.
Teclo os dentes com estes dedos
De unhas roídas
E observo aquele "porco" do rato
Morto há três dias.
Navego, sentado, com um cigarro numa mão
E o rato (quase) completamente inanimado na outra
E o olhar parado vê... finalmente
Uma malha aberta na rede
Por onde me posso escapar.
Assim faço.
Aquele caixote iluminado
Que estranhamente não é bem uma televisão,
Mostra-me no écran
Aquilo que eu vejo para o meu futuro
(O écran está completamente negro)
E é a negrura
Que não tem nada de noite
E que tem tudo de ausência...
Que eu olho...
...

E lixado com isto tudo, apago o cigarro,
E digo para o meu gato que dormia sossegado:
- A merda da máquina deu o peido!!
E estranhamente cheirou-me mal.........
O gato acabara de se peidar para mim.


José João da Costa Mota

Debaixo do Bulcão poezine
Número 1 - Almada, Dezembro 1996

terça-feira, dezembro 01, 2009

"Este Amigo que eu Canto"

Cantada por Simone de Oliveira

A letra é do poeta José Carlos Ary dos Santos e a música de Fernando Tordo.

terça-feira, novembro 24, 2009

Poema do Coração


"Eu queria que o Amor estivesse realmente no coração,
e também a Bondade,
e a Sinceridade,
e tudo, e tudo o mais, tudo estivesse realmente no coração
Então poderia dizer-vos:
"Meus amados irmãos,
falo-vos do coração",
ou então:
"com o coração nas mãos".

Mas o meu coração é como o dos compêndios
Tem duas válvulas ( a tricúspide e a mitral)
e os seus compartimentos (duas aurículas e dois ventrículos).
O sangue a circular contrai-os e distende-os
segundo a obrigação das leis dos movimentos.

Por vezes acontece
ver-se um homem, sem querer, com os lábios apertados
e uma lâmina baça e agreste, que endurece
a luz nos olhos em bisel cortados.

Parece então que o coração estremece.
Mas não.
Sabe-se, e muito bem, com fundamento prático,
que esse vento que sopra e ateia os incêndios,
é coisa do simpático.
Vem tudo nos compêndios.

Então meninos!
Vamos à lição!
Em quantas partes se divide o coração?"


António Gedeão
em

quinta-feira, novembro 19, 2009

Da relação, nem sempre evidente, entre poesia e ciência


O blogue "da realidade outra" é expressão, na internet, de um núcleo de poesia da Miau Associação - entidade parceira do projecto Cientistas ao Palco. Aqui fica um poema retirado desse blogue.

movimento perpétuo


Pensamos a partir do postulado
De que tudo no mundo é relativo,
Quando é certo que em tudo o que medimos
é a nossa própria dimensão que achamos.
Em cada óbito o cosmos morre inteiro
E inteiro vai ressuscitar no óvulo
Que, fecundado, vinga.

publicado por Francisco Arcos

segunda-feira, novembro 16, 2009

Justiça às serpentes



quem te disse a ti, poeta, que as serpentes são viscosas?
que mania! vê lá se encontras outras imagens, está bem?
por exemplo: há serpentes venenosas, sim
há serpentes muito grandes, enrolam-se ao pescoço
de algumas divagações inconsequentes (desperdício...).
não é muito aconselhável remexer em ninho de serpentes
e há horror arrepiante numa cave onde as serpentes se enovelam.
tudo isso é muito certo. mas não lhes chames viscosas.

viscosas são as lesmas, as almas de gabinete
e os hipócritas que sabem escorregar para cima.


António Vitorino


Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

quinta-feira, novembro 12, 2009

Marasmo a Cismar - poesia de Lino Átila


Dia 14 de Novembro, 16 horas , apresentação do livro Marasmo a Cismar por Lino Átila e convidados :

Betania Map: ilustração e paginação
José Vaz : Actor
Nuno D`Ávila : Músico
Paulo: DJ B.R.O.S

Local: Livraria Bulhosa do Campo Grande 10 B, loja 8 ,
1700-092 LISBOA
Acessos : Metro campo grande , Autocarros : 45,44,21,55,67 e 65

terça-feira, novembro 10, 2009

Na mesa do Santo Ofício



Tu lhes dirás, meu amor, que nós não existimos.
Que nascemos da noite, das árvores, das nuvens.
Que viemos, amámos, pecámos e partimos
Como a água das chuvas.

Tu lhes dirás, meu amor, que ambos nos sorrimos
Do que dizem e pensam
E que a nossa aventura,
É no vento que passa que a ouvimos,
É no nosso silêncio que perdura.

Tu lhes dirás, meu amor, que nós não falaremos
E que enterrámos vivo o fogo que nos queima.


Tu lhes dirás, meu amor, se for preciso,
Que nos espreguiçaremos na fogueira.


José Carlos Ary dos Santos (1937 - 1984)


Biografia em

sábado, novembro 07, 2009

Loth fala com o anjo




Sei que na tua presença a vida salvarei
e já que novamente vou nascer
não me ordenes que para as montanhas fuja
Que compreendo eu das coisas entre os mortos
prefiro esta fértil sã campina
eu nada sei das grutas das searas
isto se eu conhecer algum planalto
nem mesmo de semente arado ou chuva
Minha mulher não é das mães que ceifam
e estas filhas que não tiveram varão
que sabem senão só de observar e colher
com olhos nas pracetas de Sodoma
Eu próprio sou juiz nestas muralhas
e à sua porta: eu tudo me esforcei
embora eu me aflija entre os seus grandes
Tenho saudades dos jardins de Ur
se aos teus olhos vivo não me deixes as montanhas
Não gosto de estar só (vê o meu tio Abraão)
ao menos entre os muros de alguma grande cidade
encontrarei refúgio deste grande mal
Há ali uma cidade e por sinal pequena
ao pé dos seus portais permite que repouse
se houver um eucalipto onde me abrigar
dentro do seu espaço ali serei feliz
Parece ser formosa e ter fontes sempre jovens
grandes alamedas e lindas raparigas
Entre eles estarei seguro estou bem certo
de amanhã erguer o que hoje não levanto
que entretanto o sol não sairá da terra
Vê bem o seu perímetro tudo é tão pequeno
por isso se achei graça perante ti viverei
de resto bem conheces o ângulo onde fica
Não derribes os seus muros já que daqui em diante
Zoar é no caminho em frente


António José Coutinho

Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

quinta-feira, novembro 05, 2009

Paladar vital

Irrompe-se em magnitude
Como a força
Um desejo

Passo em frente no ambiente
Para a altitude
Subindo sem parar

Sacudir-se sobre a calma
Ter coragem apenas
Saber olhar o mar

Aquele que nos manda
É uma bomba de vida
Que não nos trai
Se o atendermos
Coração sempre sobre a mente
Como um desejo
Subindo sem parar
Saber olhar o mar

Assim não há destino que nos pare
Numa rocha a girar
Uma luz irradiante

Ter um rio no campo
Que alimenta possante
Uma planta a crescer

Mesmo quem olha de ângulo distante
Analisa o mal falaciosamente
Expressa vontade de viver

Rasgo de lápis na pasta
Como uma construção cuidada
Não estás só nesta estrada

Aquele que nos puxa uma carta
Mostra e remostra sem mostrar
Ilusões são elas próprias

Quem nos manda
É uma bomba de vida
Que não nos trai

Se soubermos para onde vamos
Coração sempre sobre a mente
Não estás só nesta estrada
É impossível desacreditar
Mas ilusões são elas próprias.


Aurélio Engeerling Auffass

Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

segunda-feira, novembro 02, 2009

Acção


Vê, vê!
Vê tu próprio!
Que a tua incoerência vê-se.
Não pelo teu pensar.
Porque não basta pensar.
Podes pensar-te o que não é.
E podes ainda pensar que realmente acreditas
e pensas em algo que não crês
Podes dar-te as voltas que quiseres que só
te enganarás a ti próprio.
E se queres que te diga a verdade
não acredito que o faças por muito tempo.
Porque és esperto demais para isso.
Ou pelo menos julgas-te esperto e dizes que aterraste.
Sei que não queres que eu diga,
que denuncie a tua fraqueza, a tua faceta de mentiroso.
Sei que não queres que eu diga
que és um incoerente, um fraco, um nulo de personalidade, um modas.
Mas quero que o admitas
e vás para casa pensar.
Que a tua ideologia são os teus actos
ligados com um pensar coerente. Age.

Osório
Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

sexta-feira, outubro 30, 2009

Poeta junto a incerto litoral


"Que não pode cantar com melodia
Um peito, de gemer cansado e rouco"
Bocage

nos teus delírios chispam mil falésias
poeta do veneno da verdade
e o mar revolto em baixo é paramento
na liturgia insana da saudade.

ó filhos desta voz altiva e seca
quem assim vos zurziu, almas penadas?
responde o claro eco: não fui eu
responde o mar: não tenho águas paradas.

(silêncio...)

não brada mais ao mar esse poeta
conhece enfim a dor da humanidade
mas a que tem no peito já o mata
erros seus, má fortuna, flor calada.


António Vitorino

Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

Os abismos do pó imenso


Os calores...
impedem-me o deslocar-me,
e resolvo cair nos
abismos do pó imenso,
enquanto os cadáveres das aves-mortas-de-pé
apodrecem ao vento...

há quem espere,
durante anos,
um reflexo novo nas águas dos repuxos...
uma transparência límpida...
onde as mulheres
penteiam os gestos quebrados...

Contaram-me...
que ela morreu no
espanto de existir vazio...

compreendo longamente...



M. Traça Corrosiva

Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

quinta-feira, outubro 29, 2009

Nos espinhos de uma rosa azul

(Rosas azuis não existem ou então não são silvestres..)



A imagem criada por reflexo
das ideias duma cor escrita
inequivocamente,
arde nas mãos desertas
à espera
de se fecharem num sono doce.
A eterna luta
entre o alter eu
e o super eu,
entre o que sou
e o que já me deixei (de) ser.
Estou numa ânsia de permanecer
ou me perder
nas sombras
de sempre.
Não me vou mais ferir
no sangue aflito
por rosas frias
que choram espinhos antigos.

Uma rosa faz sentido
com as suas raizes
bem sulcadas na terra
fresca,
não na memória
perpétua
duma estufa
(fria).


Gabriel

Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

quarta-feira, outubro 28, 2009


Em tempos fui rei
Em tempos eu era o tempo
Em tempos eu era a vida,
era a morte
A mão que estrangula e destrói,
a mão que semeia cria e gera.
Os olhos que tudo viam,
a face que em prece todos
sonhavam.
Em tempos eu morri
de uma morte cruel
e nasci com o passado.

António Boieiro

Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

Arte




Arte morta enfadonha e esquecida
tal nuvem branca em céu azul,
imagem surda e tantas vezes repetida.

Uma face sorridente, que sinto entristecida
Uma árvore forte e segura
em que transformo numa flor desprotegida
ruas alegres e coloridas
onde apenas eu vejo feridas.

É mergulhar em tua face entediada
e permanecer sempre mudo
é virar a cara ao sol e olhar nos olhos a escuridão
e acreditar que todos os risos à nossa volta
são absurdos.


É esvanecer como todas as almas desperdiçadas
que ao morrerem encurraladas no sistema
se sentem atraiçoadas.



João Gomes



Debaixo do Bulcão poezine
Número 6 - Almada, Novembro 1997

quinta-feira, outubro 22, 2009

Poesia Vadia: sessão de Outubro 2009


Poesia Vadia é a designação das sessões mensais de poesia, abertas a todos os que nelas queiram participar. Dinamizadas pelo projecto Poetas Almadenses:
A próxima realiza-se sábado, 24 de Outubro, no Le Bistro Café (Almada, Largo das Andorinhas). A entrada é livre.

quarta-feira, outubro 21, 2009

Gambuzine: em Dezembro, com textos de colaboradores do Debaixo do Bulcão


Está quase. Falta mesmo pouco para que apareçam por aí novas BDs e outras coisas visualmente (e/ou intelectualmente) estimulantes. Mas, desta vez, com um bónus: a colaboração de Catarina Henriques e António Vitorino - autores que, como se sabe, muito têm dado a este projecto bulcânico.


Informações no site do Gambuzine:



Vão passando por lá.

sexta-feira, outubro 16, 2009

“A Poesia é p’ra Comer”


17 de Outubro às 17h30 – Sala Pablo Neruda, Fórum Municipal Romeu Correia (Biblioteca Central de Almada)


Receita poética:

Escolhe-se uma poesia, o ingrediente principal.

De seguida juntam-se mais alguns ingredientes que combinam gastronomicamente palavras e sentidos. Inspiração e criatividade q.b. Serve-se com alegria e acompanhada de amigos.

Grau de dificuldade: simples

Cada poema virá acompanhado de um doce, numa partilha de sentidos que se pretende inovadora.

Venha saborear esta doce poesia connosco!
Entrada Livre

Organização: Biblioteca Municipal de Almada e Poetas Almadenses.

domingo, setembro 27, 2009

Poesia Vadia - imagens da sessão de Setembro 2009, no Le Bistro Café, Almada

As sessões mensais de Poesia Vadia realizam-se, habitualmente, no último sábado de cada mês. São organizadas pelo projecto Poetas Almadenses e estão abertas à livre participação de todos os poetas (ou apreciadores de poesia) que nelas queiram participar.
Mais informações no blogue dos Poetas Almadenses:


















Fotos de António Vitorino

quarta-feira, setembro 23, 2009

Teatro Fórum de Moura procura músico / actor


Teatro Fórum de Moura - colectivo que colabora com o Debaixo do Bulcão em produções como Poesia Olímpica Sem Piscina - procura músico/actor com experiência a integrar equipa em Janeiro de 2010.

Participação na produção "Tomar O SOL" 2010, e em espectáculo de rua.

Envio de c.v. e carta de motivação com foto para teatrofmoura@gmail.com

Mais informações: 285 254 464

sexta-feira, setembro 18, 2009

Fransico Naia no Fórum Romeu Correia, Almada


DE SOL A SUL – A MÚSICA E A POESIA DE FRANCISCO NAIA
19 de Setembro
Sala Pablo Neruda do Fórum Romeu Correia
(Praça da Liberdade, Almada)
21:30H Entrada livre.

A apresentação do evento está a cargo do Prof. Alexandre Castanheira, com a colaboração do escritor Costa Neves (E. S. Tagino).

Na parte musical teremos, como é óbvio, o Francisco Naia (guitarra e voz) acompanhado dos músicos Nuno Faria, José Carita e Ricardo Fonseca.

«Letras de canções que são poemas vestidos de acordes musicais que lhes dão consistência, interpretados por uma voz sublime que é o espelho da sensibilidade do seu autor.Uma harmonia perfeita entre a palavra escrita e a palavra cantada, testemunho de sentimentos que a música ilustra de forma magnífica.
Sons de um Alentejo profundo, de raízes que se estendem às terras de Almada, que falam do quotidiano, dos amores e aventuras das suas gentes.
Um aconchego para a alma de quem ouve.»

Organização: Poetas Almadenses em parceria com a Câmara Municipal de Almada – Biblioteca, com o apoio do FAROL – Associação de Cidadania de Cacilhas e da SCALA – Sociedade Cultural de Artes e Letras de Almada.




quinta-feira, setembro 10, 2009

O enguiço das edições de Setembro...

Debaixo do Bulcão poezine (a edição em papel, portanto) tem, em princípio, periodicidade trimestral: Março, Junho, Setembro, Dezembro.

No entanto, circunstâncias várias têm impedido que essa planificação de edições seja concretizada. Não é raro a edição de Junho sair em Julho. Mais raro, mesmo, é haver uma edição de Setembro.

Este ano não foge à regra. Não haverá, pois, edição em Setembro.

Para compensar (para vos compensar), espero conseguir editar em Dezembro um número que assinale condignamente o 13º aniversário deste projecto editorial.

Até lá, este blogue continuará a divulgar edições antigas do Debaixo do Bulcão poezine, e o que, mais adiante, se verá.

Peço desculpa pelo incómodo e agradeço a vossa compreensão.

António Vitorino
(editor)

quarta-feira, setembro 02, 2009

Literatura na Festa do Avante 2009

Soeiro Pereira Gomes, Ary dos Santos e José Gomes Ferreira são relembrados na edição deste ano da Festa do Avante, a decorrer entre 4 e 6 de Setembro.

Soeiro Pereira Gomes é considerado um dos fundadores do neo-realismo "português". "Esteiros" e "Engrenagem" são os dois romances mais conhecidos deste autor que, apesar da obra pouco extensa, marcou - pela qualidade - várias gerações de autores.

José Carlos Ary dos Santos, poeta, ficou também conhecido como letrista de algumas das canções mais emblemáticas da segunda metade do século XX português, e um dos que "revolucionou" o Festival RTP da Canção. A "Desfolhada" (cantada por Simone de Oliveira), "Menina" (na voz de Tonicha) ou "Tourada" (com interpretação de Fernando Tordo) são, só por si, grandes poemas.

José Gomes Ferreira é uma das referências da poesia lusa no século passado. Tem uma vasta obra, compilada pelo próprio em três volumes intitulados "Poeta Militante". Num registo mais próximo da "prosa poética", José Gomes Ferreira deixou-nos as "Aventuras de João Sem Medo".

Do programa da Festa do Avante 2009:

Sábado, às 16h45, no pavilhão "Festa do Livro", apresentação da obra de Soeiro Pereira Gomes, por Manuel Gusmão. Domingo, 15h30, no Café Concerto de Lisboa, debate "Soeiro Pereira Gomes, o Artista e o Partido, o Tempo e os Lugares", com Filipe Diniz, Manuel Augusto Araújo e Manuel Gusmão.

Sexta-feira, Auditório de Projecção do Pavilhão Central, filme "Ary dos Santos, poeta da Revolução". Sábado, 21h00, Café-Concerto de Lisboa, "Homenagem a Ary dos Santos - Serei tudo o que quiserem / Poeta castrado não"

Sábado, às 22h00, Auditório de Projecção do Pavilhão Central, filme "José Gomes Ferreira, um homem do tamanho do século".

Mais informação em
http://www.festadoavante.pcp.pt/

segunda-feira, agosto 31, 2009

Timor, sempre valeu a pena!




(Em memoria de todos quantos tombaram pela Patria, Nossa Amada)



Sou pobre
Sou pequeno
Mas sou fruto
Da luta de um heroico Povo
Muitas vezes abandonado
Mal compreendido
E até amaldiçoado

Sou lenta no crescimento
Mas sou gigante em História
Fui esfarrapada
Mas não me conseguiram por a nu
Tenho filhos varões
Que tardam em abraçar
A realidade nua e crua

Mas lá chegarei um dia
Porque o sol ainda brilha
Ao nascer da alvorada
E tambem nos acena com um sorriso
Ao cair do entardecer
Como quem quer dizer

Que sempre valeu a pena!



Zé da Labia
17/04/09

em Timor do Norte a Sul
http://timordonorteasul.blogspot.com/

segunda-feira, agosto 17, 2009

Poema da madrugada – São Paulo




Pelas pálpebras semicerradas
da segunda madrugada
leio o poema das lendas urbanas.

A cada página da megalópole
monstros sem rosto
se desvelam à luz do asfalto.
Há lanternas sanguinolentas
dos carros em disparada. Freio.

O olhar notívago da avenida
diz que é Paulista, e buzina
que em sua esquina talvez
exista Consolação... Surge o letreiro
ainda nublado de sua última hora:
“Cafeína & Chantili”.

Anuncia-se a profecia
do fim da treva, quando o café
sem pão se infiltra no creme
e se perde do expresso. Acelero.

Quero erva mate com maçã,
e a redenção do chocolate.
As estrelas já se foram?

O livro não é feito apenas de papel...
A Manhã inspira o segredo da Noite
e seus fantasmas de néon expiram
à sombra dos prédios de vidro.

Despeço-me dos olhos castanhos
de mais um céu de madrugada.




Madalena Barranco
http://flordemorango.blogspot.com/
Da série: Cidade Fantasia

Debaixo do Bulcão poezine
Número 36 - Almada, Julho 2009

sábado, agosto 15, 2009

Fados no Ginjal




Todas as sextas-feiras eram santas e de fé
Para aquele grupo de amantes de cigarras
Que se juntava nos bancos do Cais Sodré
Com saudades do trinar das guitarras

Antes da meia-noite rompiam para o cais
Preparados para entrar na noite fria
Deixando para trás os cantos habituais,
Do Bairro Alto, Alfama e Mouraria

Assim que se juntavam no porão
Começavam logo a animar o pessoal
Troteando pedaços de fado e de canção
Transformando a viagem num arraial

De todas as vozes quentes e afinadas
A única que destoava era a do Xico Maravilhas
Que deixava escapar grandes gargalhadas
Com as suas caldeiradas de Cacilhas

Assim que viam aproximar-se a luz do Farol
Interrompiam o canto e a diversão
Davam descanso à voz de rouxinol
Debaixo dos aplausos de admiração

Sabiam que os retiros quentes do Ginjal
Esperavam-nos de braços abertos
Como se aquelas sextas fossem um ritual
Onde havia de tudo, até encontros secretos



Luís Milheiro
http://casariodoginjal.blogspot.com/

Debaixo do Bulcão poezine
Número 36 - Almada, Julho 2009

quarta-feira, agosto 12, 2009

INCRÍVEIS E IMPERECÍVEIS




Por incrível que pareça
a nossa Incrível persiste
e a todo o mal que aconteça
troca as voltas e resiste.
Segue em frente, nunca cessa
de lutar contra o que é triste
e mesmo que fora anoiteça
avança de ponta em riste
p’ra que a claridade vença.
Nunca desarma – insiste!

Somos assim os incríveis:
de antes quebrar que torcer;
fazemos os impossíveis
p’rá Incrível sobreviver
às tempestades possíveis
de virem a acontecer.
Com vontades incontíveis,
com audácias e saber,
são mesmo imperecíveis
nosso amor, nosso querer
- ideais apetecíveis.

Di-lo a vermelha estrela
Na bandeira a esvoaçar:
Com as cinco pontas dela
Todo o mundo a abraçar.
Quem bem a desenhou, fê-la
Símbolo de fraternidade
Pois em união apela
À solidariedade.
Incrível! Dá gosto vê-la
No seu amor à cidade!



Alexandre Castanheira


Debaixo do Bulcão poezine
Número 36 - Almada, Julho 2009

terça-feira, agosto 11, 2009

Coser

Neste caso o enigma se duplica.
Na fresta aguda
Se encosta feito coisa-feita
De aço em arremate

Não fecho minha tênue intenção
A agulha fidedigna
O fio de súplica que sutura o meu receio.

Entrementes, curso de criar,
reinvento a textura da interrogação,
da rarefeita criatura que ceia em meu destino,
o meu outro destino: o outro,
o outro restante, o mais um que se debate,
a emboscada.

Ser-te rede ou pesca?


Tere Tavares
http://m-eusoutros.blogspot.com

Debaixo do Bulcão poezine
Número 36 - Almada, Julho 2009

Reflexão do olhar

Sublinhando na espiritualidade
Os sonhos realizados
Anestesiamos a idade
Saboreando os afetos conquistados

Libertos da competição
Saúdam a harmonia
No sorriso da realização
O passado partia...


Eloísa Menezes Pereira

Debaixo do Bulcão poezine
Número 36 - Almada, Julho 2009

quinta-feira, agosto 06, 2009

o cometa anti-einsteiniano




a idade passa, passa
o tempo
prende-se ao pensamento
no futuro
cada vez menor

a idade passa, passa
a realidade
prende-se ao pensamento
nas coisas
sempre tão
diferentes
daquilo que se pensa

penso, invento imagino
o tempo/as coisas
como deveriam ser

paro, penso
a realidade
são as coisas
como são

penso, paro
a vida passa
nada é relativo


em
Debaixo do Bulcão Poezine
Número 36 - Almada, Julho 2009
imagem copiada de

terça-feira, agosto 04, 2009

A noção da distância e do tempo.


Estou abstraído ao meu meio ambiente e o meu pensamento deixa de se preocupar com a noção da distância e do tempo. O tempo, é o meu espaço, e a distância para mim não existe; por ser um espaço necessário à minha passagem.

O tempo, dá-me a reflexão que me permite poder dar a minha opinião, e a minha reflexão tem a premonição da minha mente que me encandeia a uma conclusão depois de uma dupla condição.A opinião é uma influência estranha, lógica ou inevitável vinda do meu intuito súbito com um prognóstico que persiste dentro do meu espírito onde as minhas percepções materiais estão fora do meu consciente, sem relevos e nuances.

Quando me esqueço do tempo, parto para um ponto de um terreno, e olho para dentro do seu espaço a explorar com as mãos livres, e com os meus calcanhares, e repito várias vezes; será que estou a imaginar?Acompanho-me com a mente, e dos meus calcanhares que se movimentam com os meus passos: e sem saber a distancia e o tempo que preciso para voltar para tras.

A minha caminhada é lenta e susceptível a desencadear-se com o reflexo da minha sombra que no solo segue os meus passos amortecidos e regulares, para que não pare o meu reflexo, nem aumente o atraso deste.
Os meus olhos vão indicando a direcção por onde se prolonga o meu olhar: a minha mira é longa, permite-me aproximar da distância com a medida convencional deixada à minha consciência: e assim, vou caminhando até que a laranja fulgurante do sol envergonhado se esconda; depois, sigo com a lua e passeio com os pirilampos que lampejam sem a noção da distância e do tempo, a quem sou insensível, mesmo que esta me queira separar de alguém.

Pedro Alves Fernandes


Debaixo do Bulcão poezine
Número 36 - Almada, Julho 2009

segunda-feira, agosto 03, 2009

Poema Infantil


Olha lá, xiripiti
O que é feito de ti?
Toc-toc, tic-tic
Na farmácia, na boutique
Tic-tic, tac-tac
O bébé fez mais um traque
Tac-tac, toc-toc
Troca a fralda, dá-lhe um toque

Feliz feliz na viva roda
Sempre alerta, sempre em ordem
Dá-lhe a roca, traz mamoca
Rir sem dentes na banhoca
Cada dia é uma prova
Alegria que se renova
Cresce, cresce sem demora
Ganha corpo a toda a hora

Que bonito, é tudo novo
Xiripiti a chocar um ovo!



Debaixo do Bulcão poezine
Número 36 - Almada, Julho 2009

Eles

Ah, esses seres masculinos,
Com audácia permitida,
Percorrem os caminhos femininos,
Sem culpa alguma sentida.

Esses seres indomáveis,
Que ostentam certa dureza,
Que os tornam assim tão frágeis,
Numa insustentável leveza.

Ah, esses seres temerosos,
De cometer certos deslizes,
Nem sempre tão amorosos,
Se esquecem de ser felizes.

Esses seres infalíveis,
Na arte de induzir,
Na hora são incríveis,
Com a manha de seduzir.

Ah, esses seres tão carentes,
Que receiam ser submissos,
Insuportáveis, agem diferentes,
Fogem de compromissos.

Pobres seres masculinos,
Os que não enxergam a verdade,
São os seres femininos,
Que desvendam a masculinidade.

Por fim, há o ser feminino,
Na eterna missão incessante,
À ciência de um bom amante!


Mônica Quinderé

Elas




Ah... Esses seres femininos
De simultâneas sensações
Enlouquecem os seres masculinos
Que se perdem nas ações

Guiados por mãos divinas
Trazem a virtude de se doar
Aprendem ainda meninas
Que outro ser, pode gerar.

Esses seres maravilhosos
Por imenso amor, dão à luz
Na hora do parto são corajosos
Clamam sempre por Jesus

Esse ser tão sublime
Que desde o ventre, já ampara
Para toda existência, exprime
Devoção ao ser que criara

Esses seres tão sensíveis
Aparentemente dominados
Alguns inesquecíveis
São sempre os mais amados

Esses seres apaixonantes
Sutil mistério restringe
Aos seres masculinos amantes
Como enigma de esfinge

Esses seres sedutores
De beleza inefável
Sinuosos condutores
De gesto inconfessável

Pobres seres masculinos
Que sempre almejam liberdade
Não são os seres femininos
Que os prendem na verdade

São os lados que se unem
Formando seres em unidade
Na simetria que se fundem
Buscando a felicidade!



Mônica Quinderé



Debaixo do Bulcão poezine
Numero 36 - Almada, Julho 2009

sexta-feira, julho 31, 2009

ilustração de
Cirq (Lukas Liederer)
cedido por Gambuzine