sexta-feira, setembro 19, 2008

Soneto para ursos

não pares; deixa ir o desvario
das lágrimas que o mar irão salgar.
é esse o sal dos olhos, o penar
na tristeza do inverno, duro e frio.

mas por força de lei, fatal natura
teu amargo hibernar acaba agora:
não pares pois chegou a nova hora
vai ao pote de mel, o amor perdura.

e enquanto o doce alimentar o cio
não te queixes, ursinho, a vida é breve
(dois dias de alegria, outro de azar)

balouça, brinca a prumo nesse fio
arvora-te no ar, de ânimo leve;
inspira, bebe, deixa de pensar.



Affonso Gallo

(affonsogallo.blogspot.com)

Debaixo do Bulcão poezine
Número 5 - Almada, Setembro 1997

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