O desejo
entre dispõe
e languesce
a eternidade
que perpassa
no que têm;
que tinha a ver
que era de ser -
Lutas nos dias
do terror libertam
urros que correm
no movimento servil...
Nrocha07
Debaixo do Bulcão poezine
Número 31 - Almada, Dezembro 2007
sexta-feira, dezembro 28, 2007
“…sobre o Mar”
Escuto aquele silêncio insistente
que num esbater de ondas é quebrado.
E fui sonhar,
relembrar…
A substância misteriosa
escondida naquela harmoniosa
cantiga indefinida
que os homens respiram,
saúdam,
contemplam:
Sois profundo e intenso,
infinitamente enigmático.
Porque em ti todos os segredos
se escondem – Porque os guardas…
Não os desvendas…
É para ele que me dirijo,
se a nostalgia me invadiu.
É para ele que me viro,
se uma inquietação me consumiu:
Sois um fascínio,
somente beleza -
porque existes,
com certeza.
Sois a mistura de um abrigo
entrelaçado infindavelmente
numa força resistente.
Sois vida,
Sois natureza!
Susana Barão
Debaixo do Bulcão poezine
Número 31
Almada, Dezembro 2007
que num esbater de ondas é quebrado.
E fui sonhar,
relembrar…
A substância misteriosa
escondida naquela harmoniosa
cantiga indefinida
que os homens respiram,
saúdam,
contemplam:
Sois profundo e intenso,
infinitamente enigmático.
Porque em ti todos os segredos
se escondem – Porque os guardas…
Não os desvendas…
É para ele que me dirijo,
se a nostalgia me invadiu.
É para ele que me viro,
se uma inquietação me consumiu:
Sois um fascínio,
somente beleza -
porque existes,
com certeza.
Sois a mistura de um abrigo
entrelaçado infindavelmente
numa força resistente.
Sois vida,
Sois natureza!
Susana Barão
Debaixo do Bulcão poezine
Número 31
Almada, Dezembro 2007
quarta-feira, dezembro 26, 2007
Despedida
Não te quero
senão porque te quero
e de tanto querer-te
a não querer-te chego
e de esperar-te
quando não te tenho
gela o meu coração
neste inferno.
Quero-te
porque só a ti te quero,
odeio-te sem fim,
e odiando amo-te,
e a ironia deste amor cruel
é não te ver,
e quando te vejo,
amar-te como um cego.
Nesta história só eu morro
e morrerei de amor
porque te quero
e porque te quero
despeço-me, amor, e parto
pois perdi-te e já não te tenho...
Vang
Debaixo do Bulcão poezine
Número 31 - Almada, Dezembro 2007
senão porque te quero
e de tanto querer-te
a não querer-te chego
e de esperar-te
quando não te tenho
gela o meu coração
neste inferno.
Quero-te
porque só a ti te quero,
odeio-te sem fim,
e odiando amo-te,
e a ironia deste amor cruel
é não te ver,
e quando te vejo,
amar-te como um cego.
Nesta história só eu morro
e morrerei de amor
porque te quero
e porque te quero
despeço-me, amor, e parto
pois perdi-te e já não te tenho...
Vang
Debaixo do Bulcão poezine
Número 31 - Almada, Dezembro 2007
sábado, dezembro 22, 2007
Kyrie
Em nome dos que choram,
Dos que sofrem,
Dos que acendem na noite o facho da revolta
E que de noite morrem,
Com a esperança nos olhos e arames em volta.
Em nome dos que sonham com palavras
De amor e paz que nunca foram ditas,
Em nome dos que rezam em silêncio
E falam em silêncio
E estendem em silêncio as duas mãos aflitas.
Em nome dos que pedem em segredo
A esmola que os humilha e os destrói
E devoram as lágrimas e o medo
Quando a fome lhes dói.
Em nome dos que dormem ao relento
Numa cama de chuva com lençóis de vento
O sono da miséria, terrível e profundo.
Em nome dos teus filhos que esqueceste,
Filho de Deus que nunca mais nasceste,
Volta outra vez ao mundo!
José Carlos Ary dos Santos
Mais sobre este autor:
www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Ary+dos+Santos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ary_dos_Santos
José Carlos Ary dos Santos
Mais sobre este autor:
www.astormentas.com/din/biografia.asp?autor=Ary+dos+Santos
http://pt.wikipedia.org/wiki/Ary_dos_Santos
quinta-feira, dezembro 20, 2007
Receita para parir um bom esquizofrémito
Relacionarmo-nos sexualmente
Com a dor de todas as palavras
De tantas quantas as pessoas
Que outra pessoa possa guardar no seu interior
Abraçar as eternas meias-horas
Que por nós passam e nos trespassam
(O Verbo que se faz Carne
Que se refaz sangue
Que se reduz pó)
Mário Lisboa Duarte
margemdarte.blogspot.com
Tarde
Na inconstância da etérea luz
Do ventre da língua
Ser-se ubiquamente omnisciente
De uma linguagem que se desenvolta
No movimento frenético
Dos múltiplos orgasmos
Seguidos de ternos espasmos violentos
Mário Lisboa Duarte
microbiomegalomano.blogspot.com
em Debaixo do Bulcão poezine
Número 31 - Almada, Dezembro 2007
Com a dor de todas as palavras
De tantas quantas as pessoas
Que outra pessoa possa guardar no seu interior
Abraçar as eternas meias-horas
Que por nós passam e nos trespassam
(O Verbo que se faz Carne
Que se refaz sangue
Que se reduz pó)
Mário Lisboa Duarte
margemdarte.blogspot.com
Tarde
Na inconstância da etérea luz
Do ventre da língua
Ser-se ubiquamente omnisciente
De uma linguagem que se desenvolta
No movimento frenético
Dos múltiplos orgasmos
Seguidos de ternos espasmos violentos
Mário Lisboa Duarte
microbiomegalomano.blogspot.com
em Debaixo do Bulcão poezine
Número 31 - Almada, Dezembro 2007
quarta-feira, dezembro 19, 2007
Lista de objectos encontrados num acampamento de escravos fugitivos mais o poema encontrado nessa lista
três machetes
três facas com ponta e outra sem ponta
três punhais de tamanho maior com as suas bainhas
um punhal sem cabo e a sua bainha
três punhais sem cabo e sem bainhas
um machado para lenha com cabo
meia arroba de cera cozida pouco mais ou menos
igual quantidade de cera em rama
um baralho de cartas
algumas peças de roupa
um capote com mais de meio uso
uma rede de dormir com mais de meio uso
um pouco de carne
uma frigideira e um pouco de comida
um garrote grande e uma pedra redonda
uma vasilha grande de guira para transportar água
uma cabaça pequena com mel e uma garrafa vazia
um pouco de pólvora
seis chuços que mandei destruir
Alexandre O’Neill (n:19/12/1924 -f: 21/8/1986)
“Dezanove Poemas” (1983),
em “Poesias Completas”, edição Assírio & Alvim,
Lisboa, Novembro 2000
Mais deste (e sobre este) autor, aqui:
debaixodobulcao.blogspot.com/search/label/Alexandre%20O%27Neill
três facas com ponta e outra sem ponta
três punhais de tamanho maior com as suas bainhas
um punhal sem cabo e a sua bainha
três punhais sem cabo e sem bainhas
um machado para lenha com cabo
meia arroba de cera cozida pouco mais ou menos
igual quantidade de cera em rama
um baralho de cartas
algumas peças de roupa
um capote com mais de meio uso
uma rede de dormir com mais de meio uso
um pouco de carne
uma frigideira e um pouco de comida
um garrote grande e uma pedra redonda
uma vasilha grande de guira para transportar água
uma cabaça pequena com mel e uma garrafa vazia
um pouco de pólvora
seis chuços que mandei destruir
Alexandre O’Neill (n:19/12/1924 -f: 21/8/1986)
“Dezanove Poemas” (1983),
em “Poesias Completas”, edição Assírio & Alvim,
Lisboa, Novembro 2000
Mais deste (e sobre este) autor, aqui:
debaixodobulcao.blogspot.com/search/label/Alexandre%20O%27Neill
terça-feira, dezembro 18, 2007
Turbilhão
A escada das memórias
Sobe sempre em caracol
Num rodopio desvairado
Que te empurra e solta
Na manhã submersa da tristeza
Onde vive a chama solitária.
Monstro vivo, algures na Terra
Decapitando os augúrios do Amor
Tenra carne, bendita pele
Morre e sonha e cai tão só
Que a vida não quis que fosse
Um dia mais na clara cor.
Miguel Nuno
wiguelnuno.blogspot.com
em Debaixo do Bulcão poezine
Número 31 - Almada, Dezembro 2007
Sobe sempre em caracol
Num rodopio desvairado
Que te empurra e solta
Na manhã submersa da tristeza
Onde vive a chama solitária.
Monstro vivo, algures na Terra
Decapitando os augúrios do Amor
Tenra carne, bendita pele
Morre e sonha e cai tão só
Que a vida não quis que fosse
Um dia mais na clara cor.
Miguel Nuno
wiguelnuno.blogspot.com
em Debaixo do Bulcão poezine
Número 31 - Almada, Dezembro 2007
segunda-feira, dezembro 17, 2007
Tentativa e erro
quando era criança
tentei enxertar na terra um pessegueiro.
ele não cresceu:
a terra era boa
o que me faltou foi o talento.
não faz mal:
era só um capricho
eu não gosto de pêssegos.
agora que sou adulto
enxerto nesta terra os meus versos.
não sei se vão crescer:
a terra não é boa
mas dizem-me que tenho talento.
não faz mal:
é só um capricho
pelo menos tento.
António Vitorino
(Agosto 2003)
vitorinices.blogspot.com
tentei enxertar na terra um pessegueiro.
ele não cresceu:
a terra era boa
o que me faltou foi o talento.
não faz mal:
era só um capricho
eu não gosto de pêssegos.
agora que sou adulto
enxerto nesta terra os meus versos.
não sei se vão crescer:
a terra não é boa
mas dizem-me que tenho talento.
não faz mal:
é só um capricho
pelo menos tento.
António Vitorino
(Agosto 2003)
vitorinices.blogspot.com
quinta-feira, dezembro 13, 2007
Escrita Maldita
Não mais o não
Derrota violenta
Idealista sem palestra
Anarquista amestrado
A fome arrogante da
Revolução silenciosa
Nas mesas recheadas dos
Livres "pensantes"
Não mais
A cabeça entre as pernas
E o corpo dilacerado
Em monossílabos de infância
Nunca mais
As tetas secas
E a permanência na casa
Estupidamente fria
Nunca mais
As viagens do regresso
E Aida sonolenta
Sem a vontade de descobrir mundos
E sonegar maldições
Às avessas, às arrecuas
Avança trémulo, mas confiante
Na mais pequena liberdade permitida
A tudo se permite
A tudo se vende
Em tudo se reflecte
Sem tudo não acha nada
Nada tem a não ser tudo
Com tudo grita
Em tudo se manifesta
A tudo culpabiliza
Contudo
Não consegue nada
Escrita maldita
Maldita escrita
Nascida do pranto seco da alma
Do silêncio dolorido
Arco-íris sem cores
No silêncio mais surdo
Ensurdecedor silêncio
O grito do universo
Em uníssono
Escrita maldita
Maldita escrita
Falta de rima
Falta de fala
Fala desconexa
Ida e volta
Volta e ida
Viagem parada
Não mais o não
Nunca mais o ímpio infortúnio
Do Cristo sangrento
Imagem maldita
Maldita escrita
Escrita maldita
António Boieiro
Debaixo do Bulcão poezine
Número 31 – Almada, Dezembro 2007
Debaixo do Bulcão poezine
Número 31 – Almada, Dezembro 2007
terça-feira, dezembro 11, 2007
sexta-feira, dezembro 07, 2007
Editorial do Debaixo do Bulcão n.º 31
11 anos com o Debaixo do Bulcão!
Em Dezembro de 1996, foi distribuído o número zero deste poezine que tem publicado os trabalhos de dezenas de autores, na sua maioria oriundos da cidade de Almada.
Ao longo de mais de uma década, centenas de textos passaram pelas mãos do António Vitorino que, sem favor ou selecção, os imprimiu, recortou, colou e encontrou maneira de conseguir umas quantas resmas de papel e uma fotocopiadora, um exemplo de altruísmo cultural. O Debaixo do Bulcão não gere lucros, nem paga a ninguém. Todos os seus autores contribuem voluntariamente para a sua composição. O Debaixo do Bulcão é distribuído mão na mão e dá a oportunidade de ler novos autores, na sua maioria não publicados, a todos a quem calha recebê-lo.
Manufacturado e paginado por carolice e vontade de ajudar, a tudo tem sobrevivido, mantendo-se válidos os seus objectivos primordiais, os de difundir a poesia e literatura moderna de Almada e o de dar visibilidade a uma série de autores que assim partilham os seus textos de forma livre de imposições contratuais, colocando-se voluntariamente à margem de esquemas comerciais de produção literária e afins.
É caseiro, o Bulcão.
Miguel Nuno
Em Dezembro de 1996, foi distribuído o número zero deste poezine que tem publicado os trabalhos de dezenas de autores, na sua maioria oriundos da cidade de Almada.
Ao longo de mais de uma década, centenas de textos passaram pelas mãos do António Vitorino que, sem favor ou selecção, os imprimiu, recortou, colou e encontrou maneira de conseguir umas quantas resmas de papel e uma fotocopiadora, um exemplo de altruísmo cultural. O Debaixo do Bulcão não gere lucros, nem paga a ninguém. Todos os seus autores contribuem voluntariamente para a sua composição. O Debaixo do Bulcão é distribuído mão na mão e dá a oportunidade de ler novos autores, na sua maioria não publicados, a todos a quem calha recebê-lo.
Manufacturado e paginado por carolice e vontade de ajudar, a tudo tem sobrevivido, mantendo-se válidos os seus objectivos primordiais, os de difundir a poesia e literatura moderna de Almada e o de dar visibilidade a uma série de autores que assim partilham os seus textos de forma livre de imposições contratuais, colocando-se voluntariamente à margem de esquemas comerciais de produção literária e afins.
É caseiro, o Bulcão.
Miguel Nuno
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