segunda-feira, abril 30, 2007

Bulcão informa!

Novo livro de Artur Vaz
será lan
çado em Maio

ALMADA GENTE NOSSA -Entrevistas, II Volume - é o título de mais um livro assinado por Artur Vaz, escritor e jornalista almadense.
O lançamento está marcado para o próximo dia 19 de Maio (sábado), pelas 21 horas na sala Pablo Neruda, no Forum Municipal Romeu Correia, em Almada.

Este segundo livro do projecto iniciado em 2001 sob a responsabilidade editorial da Junta de Freguesia de Almada, é «um profícuo conjunto de depoimentos, de valor ímpar para a bio-etnografia almadense, cujas personalidades através das suas intervenções cívica e cultural representam um rico manancial de referências para as gerações vindouras ».

O livro tem prefácio de Alexandre Castanheira e capa do pintor Albino Moura.




Revista P'Almada já
(ou finalmente!)
disponível na internet

A P'Almada, jovem publicação da Câmara Municipal de Almada, já está disponível online, em formato pdf.
O acesso faz-se pelo site da Câmara Municipal de Almada: www.m-almada.pt

A presente edição, de Março 2007, tem como pontos de interesse, entre outros, as entrevistas com a atleta Naide Gomes e com uma das mais conceituadas bandas portuguesas, os Moonspell.

quinta-feira, abril 26, 2007

Al, Barrotas?

Onde estás agora, Inês? O Pedro
Está contigo nas costas da capa
Rica...! O espanhol que se vá coçar
Para o Algarve que este Sebastião está
Farto de conversa fiada. Oh, Almada
Vestida de negro falo agora contigo
E teu belo falo. Ainda te vestes de
Fado ou esqueceste os teus pais? O
Henriques dava-te com a espada à
Sintra e depois na Escola Eugénio
Dos Santos, Bairros de S. Miguéis
E enfims... Quem tem razão
É o Bocas (laureá-la é do melhor,
Ou não é?). Já dizia o
Vitorino: a caligrafia é que
Me interessa na mãozita calejada
De Gabriel, sim, Joaquim!
Depois e afinal o que me interessa
Que nas histórias venha meu nome
D´arcanjo guerreiro? João
Paulo Piava XII canções antes
De ti, ó múmia d´Ísis e nem
Sequer sabe reparar o carro
Do Jardim. Andas de bê ême double,
Vês? Os carros de bois andam aí e
Nem sequer te interessa que a
Vera seja uma bruxa, uma vaca
Sagrada, do Oriente Medieval.
Tenho aqui um Al Berto, Ju!
Barrotas? Vassouras? Mete o
Cabo Canavial pelo meio da
Recta brava, cómico da Roca,
Aproveita a embalagem e recicla-a
com teu banco, traseiro... O
Mao e o Sioux pregavam-te o
Nariz mais ao teu voodoo de estrume
Transcendente. E Maria te paria só
Com o dente mais podre que teria...
Querias o quê? Poesia, flores da prosa?
Enfia a rosa na Ana e vais ver o que
É ter uma cadela ciente de cio
Quente. Estás comido por breves calões
Que te fazem lembrar os gregos, ficas
Absurdo com este fraco latim? Vai comer
Bifanas mais as tuas Donas Franciscas, ó Canas!
Campo d´Ourique, Martires da Pátria, sabes
Onde fica o Jamaica, São Salvador, República
Das Bananas Dominicanas? Nunca viste o Mar?
Moras em P. dos Pequenitos, ó Santo da Índia.
Morres à fome no Equador! Homem, acorda já
Antes que Afonso, o meu amigo de outra hora
Te bem haja com um murro de pedras bentas...!

Gabriel 97
(inédito)

Todagente















Toda a gente critica o telemóvel do vizinho
Mas no fundo toda a gente queria ter um igualzinho
Toda a gente grita: todos diferentes todos iguais!
Mas se calhar há uns quantos bacanos a mais
Toda a gente quer ser solidária
Mas na hora da verdade toda a gente desaparece da área
Toda a gente quer ser muito moderna
Mas a tacanhez essa há-de ser eterna
Toda a gente quer fazer algo de original
Acabando por copiar aquilo que acham original
Toda a gente repara que acabo duas frases da mesma maneira
(se for esse o caso toda a gente caiu na ratoeira)
Apenas quero confirmar se estou a receber a devida atenção
Da parte de toda a gente que ouve essa canção
Toda a gente precisa de parar e relaxar um bocado
E eu, como toda a gente, já ‘tou stressado

Refrão:
Pego no microfone e faço disso o meu talento
Por fora, por dentro, mostrando o meu rebento
Superficial, composto, directo e indirecto
Tá-se cool e tá-se bem
Entrega-te ao meu som é agora o que convém
Toda a gente critica
Toda a gente tem muita pica,
Mas é na mesa do café que toda a acção fica,
Não há dinheiro que pague este sozinho…
Manda mas é vir mais um cafézinho

Toda a gente até compra camisa
Mas dessa treta ao fim ao cabo já ninguém precisa
Toda a gente fala da situação em Timor
Muitos para ganharem algo, e muito poucos por amor
Há quem costume falar de revolução
Mas a revolução não vai ser transmitida na televisão
Ela tem que acontecer dentro de cada um
Caso contrário nunca chegaremos a lugar algum
Há quem queira resolver os problemas do mundo inteiro
De uma só vez, confiante, tal e qual um bom escuteiro
Mas enquanto se perseguem tão nobres ideais
Esquecemo-nos de limpar os nossos quintais
Tentamos combater todos os males da terra
Quando afinal é na nossa casa que começa a guerra
Toda a gente devia parar de falar olhar para dentro e agir
Virgul – dá-lhe a seguir



Carlos Nobre / Bruno Silva

http://www.daweaselonline.com/
(Podem ver também o vídeo
de uma actuação dos Da Weasel
no blog Coisitas do Vitorino)

quarta-feira, abril 25, 2007


















78
Sei que as palavras
São fracas armas
Para a nossa luta

Mas alguém tem que dizê-las
Pobres e simples
Como estas
Que digo:

(por exemplo)

- O que pensas
Da palavra
Revolução?

79
Se pudesse
Acendia
Com o fogo
Do meu sangue
As letras
Para escrever
O teu nome
Liberdade

80
Vamos fazer dos cravos
Espingardas florindo
Nas mãos do nosso povo

81
Um português talhado
No sonho de granito
De libertar o Povo

Como este tão amado
Só de mil em mil anos
Acontece de novo

João Apolinário
Poemas Cívicos, 1979

Vampiros






No céu cinzento
Sob o astro mudo
Batendo as asas
Pela noite calada
Vêm em bandos
Com pés veludo
Chupar o sangue
Fresco da manada

A toda a parte
Chegam os vampiros
Poisam nos prédios
Poisam nas calçadas
Trazem no ventre
Despojos antigos
Mas nada os prende
Às vidas acabadas

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

No chão do medo
Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos
Na noite abafada
Jazem nos fossos
Vítimas dum credo
E não se esgota
O sangue da manada

São os mordomos
Do universo todo
Senhores à força
Mandadores sem lei
Enchem as tulhas
Bebem vinho novo
Dançam a ronda
No pinhal do rei

Se alguém se engana
Com seu ar sisudo
E lhes franqueia
As portas à chegada
Eles comem tudo
Eles comem tudo
Eles comem tudo
E não deixam nada

Zeca Afonso
"Dr. José Afonso em Baladas de Coimbra"
LP, 1963

terça-feira, abril 24, 2007

Conversa de dois amigos













Eh pá há tropas no Terreiro do Paço.

Tens Horas?

Eh pá há tropas no Terreiro do Paço.

Que dia é hoje?

Tropas, na rua de arma na mão.

O quê? Discurso do Marcelo?

Estás a ouvir?

Liga o rádio! Liga o rádio!


Lino Átila
Debaixo do Bulcão poezine
Nº 25 - Almada, Abril 2004

GRANDOLA, VILA MORENA

A famosa canção de José Afonso que, na madrugada de 24 para 25 de Abril de 1974, serviu de "senha" para o desencadear das acções revolucionárias do Movimento das Forças Armadas.

domingo, abril 22, 2007



















Que dor imensa, triste sina,
o cravo murchou,
morre a vindima.
O Alentejo chora
lágrimas de seca.
O operário solda
a alma
sem salário.
A hipocrisia tomou posse
em forma de trabalho.

A repressão na rua continua:
se gritar liberdade
dizem que é vaidade,
que não sabes trabalhar.
Como é que posso trabalhar
sem ser explorado,
sem ser louco mandado,
marioneta do capital,
sem vender a identidade?
Mas se grito sou mal educado,
sou mal tratado,
louco varrido.

Triste sina,
qual a melhor sorte?
Estar calado, voltar ao novo estado.
Se grito estou tramado.
Será que não voltámos ao novo estado
só que este está disfarçado.

Abril está esquecido,
escondido em ruelas escuras.
Os capitães são ruas,
alamedas que ninguém sabe o nome.
Já não há cravo na lapela,
está perdido na viela.

António Boieiro
Debaixo do Bulcão poezine
Nº 25 - Almada, Abril 2004

sábado, abril 21, 2007

25 de Abril











As mãos
As palavras
As torturas
As lutas
A dor da clandestinidade.

Ano após ano
Festas populares
Fogo de artifício
Música de intervenção
A minha emoção
O respeito
Pelos que como eu
Acreditam na liberdade!

25 de Abril de 74
Calaram-se as armas
Resistência e Morte
O Sonho tornou-se realidade
Liberdade e
Evolução social!

30 anos após a revolução!
Sonhámos?
O que conquistámos?
Povo - ditadura consumista
Educação - obrigação e deformação
Cultura - subsídios e públicos
Saúde - favorecimento e corrupção
Justiça - ficção social!

Se ainda somos Humanos
Basta desta deterioração,
Humilhação,
Aniquilação!

Ana Monteiro
Debaixo do Bulcão poezine
Nº 25 - Almada, Abril 2004

sexta-feira, abril 20, 2007



Abril, 25




É em Abril que comemoramos liberdade
desejando sempre: liberdade igauldade fraternidade
algo que nunca é próprio apenas de uma idade

aquilo que é:

eternidade na mocidade de toda esta cidade



João Mota


Ilustração: Leonor Vieira
www.fotolog.com/leo_vieira56/

Abril e a paz

(lembrando o alferes Barros de Moura)



A paz chegou em Abril
Por vontade do Povo fardado
Pelo querer de soldados e sargentos
Alferes e capitães
No mato da Guiné
As armas começaram-se a calar
Quartel após quartel
Num efeito dominó
A guerra simplesmente terminou
No chão de Bissau
Anunciando o fim da Tirania
As G3 floriram
E brotaram dos seus canos
Cravos vermelhos feitos de papel



Henrique Mota
Em Debaixo do Bulcão poezine
Número 25 - Almada, Abril 2004

quinta-feira, abril 19, 2007

Cantarei, sempre Abril

Eu cantarei,
ao Portugal
libertado.
Eu canto, ao Abril
por nós conquistado.

Eu canto
aos cravos vermelhos
e à madrugada.
Eu cantarei
à Liberdade
e à vitória
alcançada.

Eu cantarei
aos homens
e às mulheres
que por Abril, tombaram.
Eu canto,
à força
e à razão
das lutas encetadas.

Eu cantarei, Abril,
sempre Abril, será canção.


Artur Vaz






(em Index Poesis, colectânea de poesia
organizada por Ermelinda Toscano.
Edição O Farol / SCALA.
Almada, Outubro 2006)

o cravo discursa

25 de
abril

revolução!

grândola
vila
morena

cantou o
poeta

terra da
fraternidade

não
sei
onde
fica


sei que
existe

já não
é
mau

pr'á
próxima (revolução!)
espero
não me
perder
enquanto a
procuro



João Zarco
Em Debaixo do Bulcão poezine
Número 3 - Almada, Abril 1997

Nota: João Zarco é pseudónimo de Jorge Feliciano.
Mais textos deste autor no blog
Livra-te Mundo!

quarta-feira, abril 18, 2007

O Cravo

A todos os que lutaram por Abril
mas especialmente a Francisco Lino, o meu rebelde bisavô,

pela fé inabalável que depositou na liberdade.













A 25 de Abril de 1974
festejou-se a liberdade e o sonho,
com hinos nos lábios,
com votos renovados de esperança.
Com o País aberto à verdade,
e os braços estendidos aos Heróis,
às promessas e à confiança.
Foi dia de luta, de lágrimas,
de adeus às armas, de acolhimento.
De um sorriso para uma certeza.
As prisões e as torturas
queriam-se longe da lembrança,
pois agora reforçavam-se os desejos
de uma Pátria nova, renascida,
de uma Pátria nova Portuguesa!

Porém,
o tempo passou,
e um cravo rubro, solitário,
ficou na estrada tombado...
As desilusões esmagaram-no
e o Homem Novo ignorou-o,
tomando-o por vinho entornado.

E hoje,
é recordado com brindes e discursos de glória,
esse dia que ninguém esqueceu.
Mas há novos pés no silêncio a pisarem
aquele cravo de sangue exaltado e vitória
que no auge da festa alguém perdeu!...

No futuro,
uma criança,
brincando na areia da estrada,
encontrará o cravo,
que à revolução foi ceifado.
Ao romper de uma aurora,
em vigor, plantá-lo-á de novo,
para que a fé não se apague.
E crente nas razões do povo,
na sua justiça, na sua dor,
estará a plantar, sem o saber,
a mais doce força da Saudade,
e o mais intenso poema de Amor.


Helena de Sousa Freitas
Setúbal, Dezembro de 1997
(Publicado em Debaixo do Bulcão poezine
número 10 - Almada, Setembro 1998)

Mais sobre esta autora em:
Jornalismo - Literatura
Satúrnia - Letras e Estudos Luso - Canadianos

segunda-feira, abril 16, 2007

Se...

Se é possível conservar a juventude
Respirando abraçado a um marco do correio;
Se a dentadura postiça se voltou contra a pobre senhora e a mordeu
Deixando-a em estado grave;
Se ao descer do avião a Duquesa do Quente
Pôs marfim a sorrir;
Se Baú-Cheio tem acções nas minas de esterco;
Se na América um jovem de cem anos
Veio de longe ver o Presidente
A cavalo na mãe;
Se um bode recebe o próprio peso em aspirina
E a oferece aos hospitais do seu país;
Se o engenheiro sempre não era engenheiro
E a rapariga ficou com uma engenhoca nos braços;
Se reentrente, protuberante, perturbante,
Lola domina ainda os portugueses;
Se o Jorge (o «ponto» do Jorge!) tentou beber naquela noite
O presunto de Chaves por uma palhinha
E o Eduardo não lhe ficou atrás
Ao sair com a lagosta pela trela;
Se «ninguém me ama porque tenho mau hálito
E reviro os olhos como uma parva»;
Se Mimi Travessuras já não vem a Lisboa
Cantar com o Alberto...

...Acaso o nosso destino, tac!, vai mudar?


Alexandre O'Neill

em "No Reino da Dinamarca"
Guimarães Editores - Lisboa, 1958
Biografia do autor, em Vidas Lusófonas:
www.vidaslusofonas.pt/alexandre_o_neill.htm


E o famoso poema If, de Rudyard Kipling, em
www.kipling.org.uk/poems_if.htm

sexta-feira, abril 13, 2007

Mensagem do Terceiro Mundo







Foto: Neil Reeves
http://www.potd.com.au/





Não tenhas medo de confessar que me sugaste o sangue
E engravataste chagas no meu corpo
E me tiraste o mar do peixe e o sal do mar
E a água pura e a terra boa
E levantaste a cruz contra os meus deuses
E me calasse nas palavras que eu pensava.

Não tenhas medo de confessar que te inventasse mau
Nas torturas em milhões de mim
E que me cavas só o chão que recusavas
E o fruto que te amargava
E o trabalho que não querias
E menos da metade do alfabeto.

Não tenhas medo de confessar o esforço
De silenciar os meus batuques
E de apagar as queimadas e as fogueiras
E desvendar os segredos e os mistérios
E destruir todos os meus jogos
E também os cantares dos meus avós.

Não tenhas medo, amigo, que te não odeio.
Foi essa a minha história e a tua história.
E eu sobrevivi
Para construir estradas e cidades a teu lado
E inventar fábricas e Ciência,
Que o mundo não pode ser feito só por ti.


Fernando Sylvan
Em POEMAS DO TIMOR LORO SA'E
(Fernando Sylvan nasceu em 1917, na capital, Dili. Faleceu em 1993 na cidade de Cascais, Portugal, onde morou por grande parte da sua vida.)

Um ano de vida!

(Foto de Vasco Albuquerque
em www.app.pt/nte/tema/timor/artigo.htm)















Rabiscos perdidos numa folha em branco
Memórias doces que se transformam em palavras
Lágrimas que não se podem guardar
A saudade avassaladora das noites longas
Os sonhos que voam ou que guardam as asas
Desabafos de dias sem cor
Sorrisos cheios de vida
Melodias que bailam no ar
Pensamentos conturbados em busca de uma explicação
Força escondida que nos surpreende
A alma que quer caminhar
O amor que faz crescer
A mulher que se transforma
O relógio que segue o seu caminho
Uma terra distante que nos acena
O caminho que se quer percorrer
A estrada que ainda agora começou
Fragmentos de uma vida…

ILHA LOROSAE!


Malae

No primeiro aniversário do blog Ilha Lorosae
(18 Dezembro 2005)
O blog foi entretanto desactivado. Mas o(s) poema(s) fica(m)


quarta-feira, abril 11, 2007



Quando abri a porteira deste mundo
que eu nasci da vontade dos meus pais
eu trelei de menino até rapaz
um bruguelo reinava vagabundo.
Pelejei nos pinotes mais profundos
pulei cerca e cruzeta até demais
muita bronha na inheta e coisa e tais
se espremendo na volta da compressa
vamos logo aprumar essa conversa
apois é tataritaritatá

Luiz Alberto Machado

em
http://www.tataritaritata.com.br/

(poema enviado pelo autor,
por correio electrónico)

terça-feira, abril 10, 2007

Arte mágica

Luzes! Câmara!
Estou mortinho por Acção!
Quero fazer desta cena
uma revelação!

Sem um ramo de azevinho
tento devolver a esta arte,
a arte,
um verdadeiro caminho!
Oh hipnótica ilusão!
Esse fantasma do cinema!
Não te quero nesta cena
semeando a distracção!

Farei desta arte, uma arte!
Uma arte sana, profana,
uma parte de um novo mundo
que se inaugura em cada homem!

Se nesta arte as estrelas
fossem astros, não os deuses
nem os homens que fingem,
nem os escribas da Casa,
nem os ardilosos mentirosos,
nem os pagantes saqueadores
da consciência...

seria esta arte, uma arte!
Arte sana, profana,
uma parte de um novo mundo
que se inaugura em cada homem!

Luzes! Câmara!
Estou mortinho pela Reacção!
Vamos fazer desta cena

A Revelação!




Rui Diniz

quinta-feira, abril 05, 2007

Lembras-te Daquele Gajo?

Estou por aqui
O bafo quente do Verão tocou-me
… Atingiu-me…
O fim da tarde vai-se, tranquilo
E eu fico; não… (tranquilo)
E os olhares primaveris
De quem ainda poucas primaveras viveu
Entrelaçam-se entre os jovens casais
Nem Primavera, nem Verão
Que raio de tempo este
Tempo que para os ingleses…
São duas palavras
“Time” e “weather”
Uma com significado horário
Outra com significado meteorológico
Para nós apenas uma… vai chegando
Misturando horas, com dias de nuvens ou sol
E assim também os poetas
Também eles, se confundem
E confundem os outros… com os seus mistérios
O sol que nasce para todos já se pôs
E o olhar apagar-se-á… no quarto vazio
E o sonho ficará para sempre
Como que num coma eterno
Como que eternamente ligado
… A uma máquina, de vida artificial
E eternamente morto, mas a respirar
E todos nós; todos nós
Continuaremos a continuar
Todos nós olharemos aquele sol
Que nos é comum
E todos nós;…
Cada um tentará impor a sua vontade
Aos outros
Nem que seja…
Fazendo-os pensar que a ideia foi deles próprios
E crucificaram o… Desculpem era a maioria
Mas crucificaram um gajo p’raí há 2000 anos
E continuam a pedir-lhe desculpa
E ainda por cima o gajo já morreu
Há p’raí 2000 anos; sim… é verdade
Também eu tenho uma coisa para dizer aqui!:

Desculpa lá essa cena pá!





















José João da Costa Mota




Publicado em
Debaixo do Bulcão poezine

Nº 6 – Novembro 1997

terça-feira, abril 03, 2007

Um dia com Cesariny...

Morreu o poeta-pintor Mário Cesariny.
Estarrecemo-nos. Sentimos um baque paralisante…
A notícia apanhou-nos de surpresa, muito embora soubéssemos que o seu estado de saúde se vinha a agravar-se, resultado de doença oncológica, que há muitos anos padecia.
Figura sempre inquieta e questionadora, Cesariny foi um dos mais vincados dinamizadores da prática surrealista em Portugal. Integrando o Grupo Surrealista de Lisboa, em 1947, Mário Cesariny foi uma das muitas personalidades da qual fizemos investigação oral, quando preparávamos o livro “Natália Correia – Escritora do Amor e da Liberdade”.
Recebidos na sua casa em Lisboa, Rua Basílio Teles, no dia 10 de Novembro de 2002, pudemos contactar com alguém que, para nós, era somente um referência impar cultural, através da sua poesia e da pintura.
Quantas vezes, o vimos a passear pelo paredão da Costa de Caparica e ficámos sem coragem para abordá-lo, pois a nossa timidez era bem mais forte.
Contudo, a razão e motivo de escrever sobre Natália Correia aguçou-nos os impulsos, marcando um encontro, o qual viria a colmatar algo que há muito desejávamos, privar de perto com alguém que era, acima de tudo, um sonhador e um génio.
Recebidos por si e por sua irmã Henriette, falou-nos da sua formação artística, incluindo o curso da Escola de Artes Decorativas António Arroio e os seus estudos na área de música, com Fernando Lopes Graça. Mais tarde, viria a frequentar a Academia de La Grande Chaumiè-re, em Paris, cidade onde viria a conhecer André Breton, responsável pela sua paixão e amor pelo surrealismo.
Considerando que «O Homem só será livre quando tiver destruído toda e qualquer espécie de ditadura religioso-política ou político-religiosa e quando for capaz de existir sem limites», Mário Cesariny proclamava-se de uma forma activa e profunda «capitão da sua própria alma».
Questionado sobre Natália Correia testemunhou-nos que «...conhecia-a numa ida ao Teatro de São Carlos. Confesso que fiquei perplexo perante a sua beleza. A sensualidade dos lábios e o olhar encantou-me, direi mesmo que estava perante uma estátua de mármore, como lhe chamavam quando queriam definir o seu perfil de mulher fascinante». Como recordo a sua ternura quando falava da amizade que com ela partilhou «não pertencendo ao movimento surrealista, ela própria viria a ser influenciada na sua obra poética», diria Cesariny realçando principalmente esse facto nos primeiros livros de Natália.
Recordando os serões culturais na casa da escritora, Mário Cesariny desvendou-nos que foi numa dessas tertúlias que foi lançado, em 1955, o seu livro de poesia “Manual de Prestidigitação”.
Possuidor de uma personalidade muito forte o fascínio do artista encantou-nos, fazendo com que aquele memorável encontro ficasse para nós registado com algo de muito profundo. No dia seguinte, enviamos por carta o seu depoimento, de modo a que o mesmo fosse por si revisto, antes de ser publicado. Dias depois, Cesariny telefona-nos dizendo: «Que muito grato ficaria, se fosse divulgado o teor do nosso encontro, só depois da sua morte…».
Perplexos ficámos perante tal pedido, mas respeitámos o seu desejo, razão pela qual surge este apontamento.
Morreu Mário Cesariny de Vasconcelos – o homem fechou os olhos ao mundo, mas o mundo não mais fechará os olhos à obra que nos legou.

ARTUR VAZ