sexta-feira, dezembro 22, 2006

Underground

Na mesa o tabaco onde
homens de pão de lata
em cinza conservam o fumo
no duche de pedras nuas,
em que os filhos pretos
de raiva misturam ideias
vazias no prato de sopa.
Ah! Mafalda, Mafalda!
Porque é que não és
a janela do umbigo de
dentes ocos.
Palavras, palavras.
Trás, trás, bateu o vento.
Os homens de pão de lata
em cinza desataram a gritar
foda-se, foda-se.
A luz da madrugada rompe
a escuridão da noite e
os homens de pão de lata
em cinza saltitam no esgoto
da mesa a vida.
Sombras de cão que vadiam ao luar
pelo fogo do candeeiro
que na janela da rua
os pássaros cagam liberdade.
A noite esvai-se.
E, num soluço,
é dia.


Flávio Andrade
(Debaixo do Bulcão 11, Dezembro 1998)

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